quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Se formando PROFESSOR...

 Ao longo deste texto escreverei sobre minha experiência ao longo dos 4 anos no magistério, analisando os pontos mais importantes e que trouxeram algo para minha vida. Contarei sobre como o magistério mudou vários aspectos em minha vida, me mostrou um outro lado da vida, fazendo com que eu saísse de meu mundinho, da minha aérea de conforto passando a conhecer coisas novas, agregando conhecimentos e experiências de vida procurando assim a evolução e amadurecimento do meu ser. 
 No primeiro ano do curso as coisas pareciam difíceis, tantas matérias novas, coisas novas de que nunca tinha ouvido falar. Primeiro estágio em campo, primeiro contato com as crianças, vendo em prática as teorias de Jean Piaget e Vygotsky, foi realmente incrível, até mesmo trocar a primeira fralda, estar ali observando todo aquele trabalho de desenvolvimento com os pequenos, de berçário até o jardim, através das brincadeiras, acompanhar toda uma rotina, me fez refletir sobre meu futuro como docente como vou trabalhar o lúdico e procurar estar do lado dos meus alunos brincando e ao mesmo tempo desenvolvendo sua coordenação psicomotora, motora, lateralidade, os 5 sentidos entre tantas coisas de forma saudável e mais amorosa possível. 
 Em meu segundo ano, levei um choque de realidade ou como dizem um “banho de água fria”. Neste segundo ano o assunto principal foram a diversidade e inclusão, estudamos todas as deficiências e o estatuto do índio e do idoso. Visitamos todas as escolas que abrangem a diversidade, a APAES – Associação de pais e amigos dos alunos excepcionais, APADEV – Associação de pais e amigos dos deficientes visuais, ASSUMO – Associação dos surdos de Umuarama, e as salas de recursos multifuncionais, em todas as escolas que visitamos fomos muito bem recepcionados, os profissionais nos apresentaram toda a estrutura da instituição, acompanhamos de perto os trabalhos desenvolvidos com os alunos e eles não se deixam vencer por suas deficiências, eles têm uma vontade tão grande em aprender, em busca de conhecimentos, de amizade, eles são felizes do jeito que são, dão um show de superação e um acorda pra vida em todos, me fez refletir sobre minha vida, em como eu estava levando a vida, me fez parar de olhar pro meu próprio nariz e pensar mais ao meu redor. Comecei a dar mais valor a minha vida parar com reclamações diárias e passar a agradecer diariamente por tudo aquilo que tenho e correr atrás daquilo que ainda posso ter. 
 No terceiro ano, foi um ano parecido com o primeiro, porém um pouco mais aprofundado e começando a se encaminhar para a regência. Começamos a desenvolver planos de aula e trabalhar em cima deles, fazendo toda sua estrutura e apresentando para turma. No final do ano houve a miniaula, na qual demos uma aula para a educação infantil enfatizando a contação de história e passando atividades sobre tal assunto, nesse ponto tivemos uma pré noção de como seria nossa regência no ano se vai se suceder, observamos nossas dificuldades e como aprimorar as técnicas para dar aula. 
 Enfim chegou o quarto ano, aquele em que todos os medos invisíveis aparecem, aquele em você é colocado de frente com suas dificuldades e chega a hora de por tudo aquilo que você viu e estudou em prática na regência. Criar estratégias, criar planos extras, fazer e refazer várias vezes todos seus planos, e lidar com a questão: “Será que eu vou conseguir?”. 
 Depois de lidar com todos os medos invisíveis, concentrar se e estudar cada conteúdo, chega a tão esperada regência, no primeiro dia o coração falta sair pela boca, a gastrite ataca e a vontade de sair correndo é grande, mas, quando você chega na frente da fila pega os alunos e os leva em direção a sala de aula, uma energia toma conta de você, é como se a vida tivesse me levado a este momento desde o início, me veio a cabeça imagens de quando eu era criança brincando com meus irmãos de escolinha isso me fez refletir que me preparei a vida toda para poder estar aqui, quando eu era criança meu maior sonho era entrar em uma sala de aula como professora, então voltei a ser uma criança novamente e com o mesmo desejo de lecionar, eu tinha uma missão e me preparei arduamente para ela, com muito estudo, muita leitura e várias observações, pensar nisto me acalmo um pouco e a cada passo que você dá, seu coração vai se tranquilizando, sua postura fica ereta e a cabeça erguida, ao entrar na sala olhar para todas aquelas carinhas, esperando algo de você, algo especial que mude a vida delas, algo que os tire da rotina, giz, quadro, caderno, quadro, caderno, quadro e que façam elas lembrar para sempre de você. A confiança se torna grande, você se lembra que está ali para ensinar e passar algo especial para eles, todo aquele medo vai embora junto com a insegurança.
  Segunda-feira, primeiro dia, iniciei a aula com a contação de histórias através de dobradura, foi o maior sucesso, coisas diferentes chamam atenção das crianças por mais simples que sejam elas gostam, não devemos esquecer que apesar de tudo são apenas crianças. A aula teve segmento com português, o conteúdo foi a carta de leitor, levei revistas para eles verem de perto e entenderem o objetivo de se escrever para alguma revista ou jornal. No final da aula passei a dinâmica “O feitiço virou contra o feiticeiro” onde eles interagiram uns com os outros e sentiram na pele como é desejar o mal para o próximo. 


 Terça-feira, por perceber que meus alunos adoravam coisas inovadoras, não levei livro nem nada para contar a história do de leit, e sim apenas meu corpo e minha essência, fiz um teatro mudo, contei sim uma história mas utilizando apenas meu corpo e alguns objetos a minha volta, aproximei eles de um novo conceito de contação de história e foi sucesso. Para a aula de Matemática levei dados com diferentes números de milhar fazendo com eles mesmos montassem as contas jogando o dado para cima e anotando no caderno. Aula de ciências, procurei inovar explicando as fases da lua através de vídeos e aprimorando os conhecimentos deles com uma maquete explicando na prática como a lua muda de fase e o porque, trazendo eles para o concreto não ficando apenas no teórico. 


 Quarta-feira, os alunos amaram tanto o teatro mudo, que contei outra história através dele e utilizando o recurso da ilusão de ótica fazendo uma especia de mágica. Para a aula de Geografia levei um bingo com perguntas sobre o assunto: transportes e vias de acesso, eles aprenderam jogando e interagindo um com o outro. Como a aula de Matemática era sobre medidas e capacidades, nada melhor do que levar suco para eles poderem calcular litros e mililitros. 

 Quinta-feira, realizou a leitura de um conto cantado, algo mais simples porém não perde sua importância na literatura e nem para os alunos. O mesmo esquema dos dados foi utilizado nesta aula. Em Português, produziram em grupos cartazes com propagandas verbais e não verbais, interagirem em grupo é fundamental para a socialização da criança, e para aprender a ouvir e aceitar ideias diferentes, saber se organizar e cooperar como um todo para um bom trabalho em grupo. 


  Nesses quatro anos aprendi que a carreira de docente não é para os fracos, não é para os sem rumo na vida, maioria das pessoas entra no ramo da docência por não terem outra opção de curso, as pessoas te apontam a pedagogia quando você está confuso na escolha de sua profissão ou por ser um curso de baixo custo, mas não, o ato de lecionar é para aqueles que tem amor por ensinar, aqueles que tudo suporta, aqueles que tudo aguenta e se mantém de cabeça erguida ao fim do dia, aquele que com todas as dificuldades de um ensino pobre igual ao do Brasil, sem recursos, vai fazer seus alunos interessar por sua aula vai ser capaz de produzir recursos apenas com o que a escola tem a oferecer ou ate mesmo com seus estudantes criar materiais para uma aula mais dinâmica e prazerosa. A formação de um bom professor primeiramente vem de seu coração, com um coração formado de amor pela arte de lecionar, depois vem suas faculdades e cursos buscando aprimorar seus conhecimentos e técnicas de ensinar, acompanhando a modernidade e fazendo o diferencial. 
 Toda a regência foi o maior desafio que enfrentei em toda minha vida. Eu ensinei conteúdos para os alunos e em troca me passaram muito carinho e amor. Essa gratificação foi única e nada a subsistirá, conseguir passar por cima das minhas dificuldades, descobrir uma coragem dentro de mim que eu não a conhecia, descobri um poder: o de ensinar, e com certeza o mais nobre de todos os dons que alguém pode ter.



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